Como já anteriormente escrevi (in Figuras & Factos, vol. II pág.135) o convento franciscano foi construído em 1641, junto de uma ermida, fundada por Isabel Pereira. Mais tarde, o convento foi ampliado para Norte, e isso verifica-se pela cantaria do seu interior, e construída a Igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição. No dizer de Silveira de Macedo, a igreja era “um dos mais belos templos da ilha pelo primor da escultura dos retábulos e perfeição do douramento, possuindo os ornamentos necessários, vasos sagrados, uma lâmpada de prata, coroas e resplendores em todas as imagens”,
1.) Quando um violento incêndio tudo destruiu, em Fevereiro de 1830. O convento foi extinto, em 1833, por decreto de D. Pedro, e o último guardião, Pe. Francisco Salles, passou a habitar a casa anexa, onde hoje está instalado o jornal “O Dever”. Este padre passava dias no baldio a cortar madeira para o tecto da igreja e assim conseguiu “fechá-la ”. O altar mor parece que veio do extinto Convento da Glória que existia na Horta, no local onde hoje se encontra o mercado municipal. A antiga imagem da Conceição fora oferecida pela Santa Casa da Misericórdia da Horta. E assim ficou a igreja, modestamente reconstruída. Foi nela que se realizou a primeira festa de N.ª Senhora de Lourdes, em 1883, pois, apesar de então ser um templo modesto, era mais amplo do que a secular Igreja Matriz construída em 1506, pois, no dizer de Frei Diogo das Chagas, “ muitos anos não teve esta ilha outra freguesia mais que esta, e de todas as partes aonde moravam os povoadores vinham a ela, que foi uma pequena Igreja do Apóstolo Sam Pedro (que hoje é ermida) sua paróquia (...) a qual por ser pequena trataram de fazer outra em o meio da Vila, como de efeito fizeram, no lugar que hoje está, do Orago da Santíssima Trindade, para cujo efeito lançaram finta em todos os moradores da ilha e nas fazendas dos Ausentes”. 2.)
Os moradores (em 1505) eram 45 e o dinheiro da finta somou 28.011 reis.
Com os estragos sofridos, durante séculos, a igreja matriz ficou muito degradada, tentando-se, nos últimos anos de 1800, construir uma nova igreja no local da anterior. A primeira pedra foi lançada, em 7 de Julho de 1895.
Os serviços paroquiais, mediante alvará de 16 de Janeiro de 1902, do Governador do Bispado, foram então provisoriamente transferidos para a Igreja do Convento, que passou a ser, até 1967, a verdadeira Matriz. E por isso o seu interior foi sendo melhorado e adaptado aos serviços paroquiais, durante 65 anos.
Para a imagem de Nossa Senhora de Lourdes construiu-se, no lado leste, um singelo altar, desenhado pelo ouvidor e cura, P. Francisco Xavier de Azevedo e Castro e por ele construído com a ajuda do carpinteiro Manuel Feliciano, pai do antigo pároco da Silveira e também ele ouvidor, Pe. Manuel Vieira Feliciano. Nunca chegou a ser dourado. Para a festa de Nossa Senhora de Lourdes, o retábulo era forrada com chapas de cortiça e o nicho com pedra queimada a simular uma gruta.
Para o altar do lado oeste foi adaptado o retábulo de um dos altares da antiga Matriz. Nessa altura foi construído um coreto, retirado com as últimas obras de restauro.
A Companhia Baleeira Venturosa custeou a construção de um novo altar, dedicado ao Senhor Jesus, executado pelo Mestre Contente, da Feteira da Horta, que para a Silveira viera construir os altares e púlpitos da respectiva Igreja que havia sido pasto de um pavoroso incêndio, na noite de 24 de Junho de 1924. Mestre Contente, depois de concluir as obras da igreja da Silveira veio para as Lajes e construiu o altar do lado oeste e também o púlpito.
O altar do Senhor Jesus e a capela mor, na década de trinta, foram pintados e dourados pelo pintor-dourador Virgínio de Simas Belém.
A pintura e douramento do altar do Senhor Jesus, realizados a expensas da Companhia Venturosa, no dizer do artista, obedeceu ao estilo de ouro sobre marfim. O tecto da capela-mor ainda hoje mantém, restaurada, uma pintura cujo desenho é da autoria do mestre Virgínio Belém.
O singelo e modesto altar do lado leste foi substituído por um outro, de talha idêntica ao do Senhor Jesus, executado pelos Irmãos Rodrigues Quaresma, que já haviam anteriormente construído o altar e o púlpito da ermida de S. Sebastião - o - Novo, da Ribeira do Meio e que, depois, foi pintado e dourado pelo artista Manuel Madruga, neto do mestre Virgínio.
Com o sismo de Julho de 1998, a igreja da Imaculada Conceição voltou a sofrer diversos estragos. O Governo Regional incluiu-a, então, na relação dos prédios danificados, e isso permitiu ser o velho templo completamente recuperado: retirou-se o coreto, a meio da igreja, por desnecessário, bem como uma parte do coro, que havia sido acrescentada quando a igreja passou a ser paroquial.
Todos os altares foram restaurados, pintados e dourados por artistas micaelenses, depois das obras de restauro.
Actualmente, além de outras, na capela-mor está a formosa Imagem de Nossa Senhora da Conceição, da autoria do mesmo escultor que executou as que se encontram na Igreja da Conceição de Angra e da Matriz de S. Cruz das Flores e que foi adquirida, em 1906, com donativos recolhidos nas diversas ilhas pela devota Rita Carolina.
A igreja do convento de São Francisco deve ter voltado ao primitivo estado de primor da escultura dos retábulos e perfeição do douramento, como diz Silveira de Macedo, quando foi reconstruída.
1.) Macedo, A.L.Silveira de – História das quatro Ilhas...
2.) Chagas, Frei Diogo -Espelho cristalino em jardim de várias flores
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